Max Weber

O sociólogo alemão Max Weber é um dos principais teóricos da sociologia e ocupa, junto a Émile Durkheim e Karl Marx, uma das bases da chamada tríade da sociologia clássica. Weber fundou um método de estudo sociológico baseado no que ele chamou de ação social e produziu estudos profícuos para a compreensão da formação do capitalismo. O livro mais difundido de Weber é A ética protestante e o espírito do capitalismo, em que ele analisa a proximidade da formação do capitalismo com a disseminação do protestantismo.

Biografia de Max Weber

Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920) foi um sociólogo, jurista e economista alemão. Nascido em uma família de posses liderada por um advogado, Weber foi educado com a rigidez da religião protestante e com o despertar do gosto pelo estudo e pelo trabalho. Quando ainda jovem, ele presenciou a unificação da Alemanha promovida pelo estadista Otto von Bismarck. (O Estado alemão ainda não existia. Existiam vários reinos de origem germânica independentes, e Bismarck promoveu uma política de integração desses reinos, formando a Alemanha tal como a conhecemos hoje.)

Max Weber era membro da tríade da sociologia clássica.
Max Weber era membro da tríade da sociologia clássica.

Em 1882, Weber ingressa no curso de Direito da Universidade de Heidelberg, onde, para além das ciências jurídicas, aprofundou seus estudos em economia e teologia. Em 1889 concluiu o seu doutorado em Direito, na Universidade de Berlim, e, em 1893, foi nomeado professor na Universidade de Freiburg.

Entre os anos de 1882 e 1897, além da carreira acadêmica, Weber atuou no cenário político alemão, não obtendo muito sucesso. O sociólogo era um homem muito rígido consigo, e a sua idealização do trabalho e do sucesso financeiro como realização de um homem digno (ideia que aparece na obra citada) parecia acompanhar a sua vida.

O sociólogo e historiador austríaco Michael Polak, que desenvolveu um trabalho biográfico sobre Weber, afirma que o sociólogo alemão odiava a ideia de depender financeiramente de seu pai, primeiro por ter algumas diferenças familiares com o progenitor e também por cobrar de si um sucesso profissional e financeiro, sucesso esse que geralmente é demorado para quem está iniciando uma carreira de pesquisador acadêmico.

Sabe-se que, para tornar-se um professor universitário e pesquisador, é necessário estudar muito antes de conseguir êxito. Um reflexo disso foi o casamento de Weber com a escritora feminista Marianne Schnitger, o qual foi adiado por anos, tendo sido realizado apenas em 1894, quando o sociólogo conseguiu um emprego. Nesse período de espera, antes do noivado definitivo, um amigo de Weber havia pedido Marianne em casamento (quando Weber e ela já trocavam intensões de um relacionamento), o que causou ainda mais desgosto em Weber com a sua própria vida, afirma Polak.

Em 1887, a mãe de Weber decide viajar para visitá-lo. O seu pai não permite que a esposa vá sozinha e Weber não gosta da ideia de recebê-lo em casa, expulsando-o na sua chegada. Algum tempo depois, o pai morre e Weber tem um colapso mental, entrando em profunda depressão, a qual o impediu de trabalhar.

O sociólogo conseguiu uma licença da universidade e decidiu viajar, percorrendo vários lugares da Europa (a Itália era o seu destino preferido) e conhecendo os Estados Unidos. Nesse período ele tenta voltar a lecionar, não obtendo êxito, no entanto, por conta de sua doença. A sua situação mental atormentava-o, principalmente pela vergonha que ele sentia da depressão e de não conseguir trabalhar. Ser sustentado por uma licença era ainda mais vergonhoso para o pensador.

Em 1903, Weber pede demissão da universidade, o que lhe foi negado por sua competência. A administração pública entra em acordo com ele concedendo-o uma aposentadoria, e, em troca, torna-o professor honorário da Universidade de Heidelberg, direcionando a ele uma carga horária mínima de trabalho, o que deu certo para que o sociólogo voltasse a trabalhar e recuperasse a sua saúde mental.

Nesse período de retorno, Weber volta a escrever com intensidade, redigindo inclusive a sua obra magna — A ética protestante e o espírito do capitalismo. Ele havia deixado a atuação no campo político há algum tempo, o que também o ajudou a recuperar-se mentalmente.

Max Weber vivenciou a Primeira Guerra Mundial e, em 1919, foi conselheiro da delegação alemã nas conferências que antecederam o Tratado de Versalhes. A Alemanha perdeu muito com o acordo, pois teve seu exército reduzido, perdeu território e teve que pagar uma indenização pelos estragos causados pela guerra.

Entre 1919 e 1920, Weber também atuou como membro da comissão que formulou a Constituição de Weimar — documento que oficializou a chamada República de Weimar, período republicano da Alemanha que iniciou com o fim do Segundo Reich (segundo império que começou em 1871 com a unificação de Bismarck) e terminou com o início do Terceiro Reich (terceiro império que se iniciou com a chegada de Hitler ao poder em 1933).

Max e Marianne Weber, em 1894.
Max e Marianne Weber, em 1894.

Em 1920 uma pneumonia severa acamou Weber e levou-o à morte aos 56 anos de idade. Até então, o sociólogo havia publicado apenas os livros A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905), Economia e sociedade (1910) e A ciência como vocação (1917). Após a sua morte, Marianne Schnitger Weber, sua esposa, realizou uma curadoria de sua obra e foi responsável pela publicação póstuma de um segundo volume de Economia e sociedade (1921), A metodologia das ciências sociais (1922) e História econômica geral (1923).

Teoria, pensamentos e principais ideias de Max Weber

Os principais objetos de estudo de Weber na sociologia foram o capitalismo e o protestantismo, levando o sociólogo a desenvolver uma sociologia da teologia. A visão weberiana do capitalismo era diferente da visão marxista. Enquanto Marx via no capitalismo a exploração do proletariado pela burguesia, Weber encara-o como o fruto de um ideal, o ideal do capitalismo. Como um ideal, o capitalismo promovia uma espécie de racionalização do trabalho e do dinheiro, sendo sustentado pela prosperidade e pela capacidade cada vez maior de gerar dinheiro.

Max Weber foi profundamente influenciado pela filosofia de Immanuel Kant sustentada pelo idealismo. Para Kant, o plano das ideias e conceitos deveria pautar todo o trabalho filosófico, que partiria da prática para chegar aos conceitos mais puros e a priori (anteriores a qualquer vivência material). Weber acreditava que o capitalismo originava-se com um ideal, com um espírito, e a partir disso, esse sistema ia sendo construído na prática. Com base nesse ideal, surgiu a noção de administração como ciência capaz de promover o crescimento do capital.

Para escrever A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber leu o texto Conselho a um jovem comerciante, de Benjamin Franklin. Com base nesse texto, que expressa a noção que ficou conhecida como um bordão de Franklin, time is money (tempo é dinheiro), e da observação de nações europeias e dos Estados Unidos, Weber elaborou a teoria que dizia que o capitalismo teria sido aprimorado com o protestantismo, em especial o calvinista (em nações como a Inglaterra e os Estados Unidos). Para Franklin, o dinheiro deveria ser movimentado e ampliado, e essa ampliação dava-se como ensinava a tradição calvinista, por meio do trabalho.

Para os calvinistas, havia uma noção de predestinação (trabalhada por Weber como hipótese a ser considerada) que dizia que o homem já nascia predestinado ao paraíso ou ao inferno. A maneira de saber se determinada pessoa iria para o céu era medir o seu sucesso no trabalho e a sua resistência ao pecado. Como pecado, os calvinistas incluíam as diversões fúteis, como festas e luxo, além do ócio e da preguiça.

O homem de valor para os calvinistas era aquele que trabalhava muito, o máximo que o seu corpo aguentasse, e não se entregava aos prazeres da vida, acumulando assim cada vez mais dinheiro. Para as outras vertentes protestantes, há uma ideia geral bem semelhante a essa de valorização do trabalho e de fuga dos prazeres.

Isso fez com que Weber enxergasse a diferença de desenvolvimento econômico entre nações predominantemente protestantes que se tornaram as maiores potências econômicas (Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos) e nações predominantemente católicas que não tiveram tanto crescimento econômico, como Espanha, Portugal e Itália.

A ideia do teórico político e estadista estadunidense Benjamin Franklin estava sustentada no ideal calvinista, e o aumento do dinheiro por meio do trabalho e da fuga do ócio e dos prazeres parecia ser uma hipótese bem plausível para Weber, no sentido de medir o sucesso de uma pessoa. Era esperado de alguém que conseguisse ganhar dinheiro multiplicá-lo para mostrar o seu valor pessoal e moral.

A ética, nesse sentido, era uma prática voltada para um modo de agir que fugisse de qualquer distração e de qualquer pecado e que procurasse no trabalho o maior meio de chegar-se a Deus. Por isso Weber ficou tão frustrado durante um tempo de sua vida em que não conseguia obter sua sustentação financeira e sentiu vergonha do tempo em que foi acometido pela depressão e não conseguiu trabalhar. 

Ação social de Max Weber

Para a metodologia sociológica, Weber contribuiu formulando a sua teoria da ação social. Segundo o sociólogo, era necessário que o pesquisador fosse dotado de uma neutralidade axiológica, ou seja, de uma neutralidade em relação ao seu objeto de estudo. Com base em uma análise neutra e imparcial, o sociólogo deveria identificar as ações sociais dos sujeitos e classificá-las. Nisso, Weber discorda do método de Durkheim, que visa buscar fatos sociais que se repetem em todas as sociedades e são invariáveis.

Para Weber, as ações individuais é que forneciam o material necessário para chegar-se a um estudo válido. No entanto, por serem as ações sociais tão vastas e diversas, o sociólogo deveria buscar um padrão de correção para que o seu trabalho tivesse uma validade científica e um respaldo metodológico.

Esse padrão de correção estava localizado no que Weber chamou de tipos ideais, que eram balizas para estabelecer-se qualquer comportamento padrão. Como ideais, esses tipos são perfeitos e imutáveis, não existindo na prática. Nessa se encontram as ações que poderiam afastar-se ou aproximar-se dos tipos ideais.

Weber separa e classifica as ações sociais em quatro tipos. São eles:

  1. Ação social racional com relação a fins: é um tipo de ação pensada e calculada para atingir alguma finalidade. Por exemplo, casar-se para constituir uma família. A ação social é o matrimônio e a finalidade dessa ação é a constituição da família.

  2. Ação social racional com relação a valores: é um tipo de ação social pensada e calculada para atingir algum tipo de valor moral, ou visando como fundo a moralidade. Por exemplo, fazer o que a moral considera certo, como não roubar.

  3. Ação social tradicional: não é racional e nem calculada. Consiste numa forma de agir de acordo com a tradição, respeitando o que a sociedade considera como o que deve ser feito. Retomando o exemplo do matrimônio, seria casar-se porque a sociedade impõe o casamento como uma tradição que deve ser seguida.

  4. Ação social afetiva: não é racional. Ela segue os afetos e as paixões, os sentimentos e as afecções. É o tipo de ação motivada por sentimentos, como amor, paixão, medo.

No campo da teoria da sociologia política, Weber contribuiu com uma teoria da dominação, que fala dos modos de poder existentes. Para o pensador, existem três tipos de poder ou dominação exercidos que lhes conferem alguma legitimidade:

  1. A dominação legal: ocorre por meio das leis. É o poder exercido por aqueles que a lei permitiu exercê-lo, como os representantes dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, no caso de nossa República.

  2. A dominação tradicional: justifica-se pela tradição. Por exemplo, em uma sociedade patriarcal, o pai exerce o poder autoritário dentro da família e respalda-se na tradição para exercitá-lo.

  3. A dominação carismática: é exercida por lideranças carismáticas, que têm o dom de atrair o apoio das massas com seus discursos, como de maneira mágica. Temos vários exemplos desse tipo de liderança na história mundial, como Hitler, Mussolini, Getúlio Vargas e Fidel Castro.

Influências de Max Weber

Vários são os pensadores que influenciaram a sociologia de Max Weber. Por ser um grande estudioso, dedicado à leitura e à pesquisa, Weber pegou de empréstimo várias ideias para seus trabalhos. Podemos destacar como centrais para sua obra os seguintes pensadores:

  • Friedrich Nietzsche: Embora a relação e a leitura de Weber e do filósofo alemão Nietzsche sobre o cristianismo e a religião sejam completamente opostas, o sociólogo adotou uma noção de ciência e de história muito próxima da filosofia nietzschiana, que não aceitava a história defendida pelos positivistas (baseada no fato histórico simples e cru), mas buscava compreender as interpretações de pessoas na história e levava em consideração a perspectiva sobre a verdade científica.

Friedrich Nietzsche influenciou Weber em suas noções de ciência e história.
Friedrich Nietzsche influenciou Weber em suas noções de ciência e história.
  • Immanuel Kant: O filósofo idealista alemão foi um dos principais influenciadores de Weber para a compreensão da existência de ideias que se situam em um campo imutável, que apresentam as formas sobre as coisas, os conceitos, os significados etc.

  • John Stuart Mill: O filósofo inglês criou a teoria da moral utilitarista, que é um tipo de ética baseada em ações úteis para as pessoas, causando maior benefício a um maior número dessas. Essa teoria fez Weber enxergar no capitalismo uma justificativa utilitária: promover o benefício por meio do trabalho e da multiplicação do dinheiro.

  • Alexis de Tocqueville: O filósofo francês foi um grande defensor do liberalismo, teoria econômica alinhada com o capitalismo que previa a liberdade econômica para empreender-se sem a interferência do Estado. Weber colheu noções do liberalismo clássico para compor a sua análise do capitalismo.

Resumo

  • Sociólogo e economista alemão;

  • Analisou a formação do capitalismo;

  • Ao contrário de Marx, era a favor do capitalismo;

  • Desenvolveu uma teoria que aproximava a origem do capitalismo à religião protestante;

  • Desenvolveu a teoria da ação social como método de análise sociológica.

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